quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

BEM NA PORTEIRA



A casinha foi a pior parte...Desenho feito a
lápis 6B sobre papel Canson A3
(foto original de Eduardo Amorin)

Circunstanciais os limites pra quem vive no moerão
Num rancho de terra bruta a um metro e tanto do chão
Um casal de João de barro com paciência, bico e asa
Escolheu bem na porteira pra erguer o sonho da casa
O barro depois da chuva bastou pra toda a morada
Mangueira de terra boa sovada com a cavalhada
O tempo fez dias claros e a construção foi parelha
Duas semanas o rancho foi do alicerce pras telhas
O macho levava cantos pro timbre do alambrado
Na partidura da cerca, anunciava os bem chegados
Cada manhã de setembro um canto novo acordava
Quando a fêmea emplumada, por sobre o rancho cantava
Porta por lado do sol, meter a cara em porfia
E um canto de passarinho chamando as barra do dia
Por que a vida tem sentidos, onde a razão não se cansa
De renascer todo o dia, aonde existe esperança...
Mas foi bem junto com a chuva que uma tropa de cruzada
Se apertou bem na porteira querendo pegar a estrada
E o moerão num trompaço perdeu o entono e a razão
E derrubou o ranchinho de terra e ninho pro chão
E a tropa cruzou por diante sem reparar o que fez
Casco e pisada quedaram dois sonhos de uma só vez
E o barreiro repousado no outro moerão da porteira
Parecia que buscava ao longe a sua companheira
Custou, mas cantou de novo, de asa e de bico aberto
Quando o casal se encontrou num cinamomo ali perto
Pra erguer um novo rancho no mesmo ciclo de espera
Longe do cruzo das tropas, na próxima primavera...